Ditadura assassina; Bolsonaro genocida. |
Não esquecer para que não se repita
Entre os dias 31 de março e 1° de abril, o Brasil relembra o Golpe de Estado de 1964, contra o presidente eleito João Goulart, que culminou em 21 anos de ditadura civil-militar. Hoje, em 2021, um presidente eleito (!) reivindica o direito de celebrar a ocasião e chamar o golpe de revolução - e numa sinalização de poder e autoritarismo, um aceno para o congresso e para a sociedade, substitui todo o comando das 3 forças armadas no dia 31 de março.
Evangelho 2020, de Luiz Prado, foi lançado logo no início do ano. Neste larp onine, que se passa em algum ponto no futuro, uma misteriosa figura alegórica autodenominada Bombeta Carrapicho envia gases-da-verdade por correio para ex-bolsonaristas que imediatamente se sentem impelidos a participar de videocast transmitido ao vivo para contar em tempo real para todo o país sobre o que fizeram ao apoiar o messias caído e porque se arrependem.
Queremos Guerra!, do mesmo autor, se antecipa ao próprio presidente e ministro da defesa ao reunir o alto oficialato das forças armadas - exército, marinha e aeronáutica - para inventar uma guerra fictícia (e talvez estapafúrdia), para distrair o país - e, claro, elevantar o próprio moral (enquanto minimiza o dos outros).
No final de março, Tiago Junges - por meio da Coisinha Vede - convocou uma jam com o tema Ditadura Nunca Mais (#jam_64nuncamais): Jogo é arte, arte é resistência! - conclamava a chamada. Procuramos reunir neste blog os larps participantes da jam.
A Vida dos Outros e Segredos de Liquidificador, ambos de Dino Machado, exploram 2 lados da temática da repressão - e dois estilos de jogos bem diferentes. O primeiro parece trazer elementos de RPG para criar uma espécie de campanha estruturada, onde um dos jogadores representa as ações do estado e as consequências das ações dos demais jogadores, que por sua vez incorporam uma célula de combate ao regime. No segundo, um torturador parece desenvolver um tipo de afeto doentio por sua vítima.
Em USTRAJE, larp da Coral Amarelo com colaboração de Luiz Falcão, os jogadores encarnarão o papel de torturadores prestando depoimento uns para os outros, alternadamente, em uma espécie de corregedoria ou "comissão da verdade".
Cabo Pereira e a Turma do Colégio, é o segundo larp Leandro Godoy. Livremente inspirado pelo larp palestino Então, você acha que sabe dançar?, Cabo Pereira... promove o encontro entre velhos conhecidos. Eles ficarão cara a cara em duas situações muito diferentes de conflito e degradação. Para ser jogado online ou offline.
Outros terrores
Há uma importância da memória e há uma importância da imaginação. Os outros dois jogos que trouxemos para o Larp Brasil nesta oportunidade evocam terrores vindos de outros mundos, outras realidades.
Spooky Stories, jogos assombrados do novíssimo folclore brasileiro é uma coletânea lançada no halloween/dia-das-bruxas/dia-do-saci. Os três micro-jogos estão entre o engraçado e o (literalmente) assustador. São para jogar sozinho (mas nem tanto) e brincam com as fronteiras entre realidade e ficção, jogo e vida.
Uma crença tão vil, do estado-unidense Tim Hutchings, é um larp de duas páginas: de terror na primeira e de comédia duvidosa na segunda. Apesar da punchline esquisita, é um larp que chama atenção pela aplicação acessível e elegante.