quarta-feira, 31 de março de 2021

USTRAJE

USTRAJE (link)
Coral Amarelo, com a colaboração de Luiz Falcão.
Brasil, 2021
cirado para a #jam_64nuncamais

[USTRAJE] é um [LARP] criado para a #JAM_64NUNCAMAIS, promovida em 2021 pelo estúdio de jogos Coisinha Verde.

Essa é a participação da [CORAL AMARELO], com a colaboração de Luiz Falcão.
[Nº DE JOGADORES] a partir de 3 jogadores
[TEMPO DE JOGO] 1 a 3 horas
[MATERIAL NECESSÁRIO] dois pedaços de papel por jogador; canetas; uma tira de pano (venda/mordaça)
[MATERIAL OPCIONAL] trilha sonora. Som de líquido pingando num balde de metal, por exemplo.

[online?]
Uma questão pertinente para tempos de pandemia. Embora tenha sido pensado para ser jogado presencialmente, o jogo pode funcionar online, com os papéis sendo substituídos por mensagens trocadas em aplicativos. Um dos jogadores fica responsável pelo sorteio (que será descrito adiante), numerando cada jogador. O personagem interrogado deverá ficar em destaque no aplicativo de reuniões utilizado. Por fim, os solilóquios serão suprimidos da interação física que os compõe (a ser descrita adiante), sendo substituída pela nomeação da personagem a quem o solilóquio se refere, seguida pelo jogador que representa a lembrança apontar para os próprios olhos, boca ou mãos, indicando que tipo de lembrança irá trazer.

[PRELÚDICO]
Cada jogador deve escrever num dos pedaços de papel o nome de uma pessoa jovem, torturada durante a Ditadura. Essa pessoa foi torturada pela sua personagem. Pense sobre isso. Depois que pensar, logo abaixo do nome, descreva as consequências do que aconteceu com essa pessoa. Não economize nas atrocidades. Morreu? Desenvolveu esquizofrenia devido ao trauma? Perdeu o movimento das pernas? Foi vítima de estupros? Teve surdo-cegueira como sequela?

Feito isso, é hora de construir as personagens dos jogadores. Cada um deles deverá pegar o outro pedaço de papel, escrever o nome e a patente. Usem a técnica da [CADEIRA QUENTE]: cada um dos jogadores deverá se sentar numa cadeira e, durante alguns minutos, ser interrogado pelos outros jogadores. Deverá responder, de improviso, quaisquer perguntas sobre a história de sua personagem. Quando todos fizerem isso, as personagens estarão prontas.

Por fim, é hora do sorteio. Embaralhe todos os papéis que contém nomes de pessoas torturadas. O nome retirado é seu filho ou filha. Se você tirou o papel que você mesmo escreveu, isso significa que você foi responsável pela tortura do próprio filho ou filha.

[INTERLÚDICO]
Ustraje é sobre a coleta de depoimentos dos torturadores, para um eventual julgamento posterior. Cada jogador, um por vez, deverá sentar-se numa cadeira e relatar o que aconteceu. Tenha sempre em mente que você é uma pessoa pérfida, mas convicta de que estava fazendo o certo. Afinal, a ameaça vermelha era um risco real e, obviamente, a sua vítima tinha a ver com isso, já que era uma pessoa subversiva que pagou o preço por suas escolhas.

Quando um dos jogadores se sentar na cadeira, outro jogador se voluntaria para interrogar o acusado. Deve perguntar o que quiser, e fazer tantas perguntas quanto achar necessário. Quando terminar, outro jogador pode assumir o inquérito. Quando nenhum outro jogador quiser fazer mais perguntas, o jogador sentado se levanta. É hora de outro militar sentar na cadeira, e repetir o procedimento. Lembrem-se que são os próprios militares que estão coletando depoimentos uns dos outros. Talvez, seja o filho ou filha da sua personagem que foi torturado pelo militar à sua frente. Contudo, você não deve ser ávido em julgar - afinal, indivíduo pérfido que é, também tem em mente de que a sua hora irá chegar.  

[olho no olho & solilóquios]
Enquanto um jogador é o interrogado e outro é o interrogador, os demais jogadores representam lembranças. Sempre que o interrogador ou o interrogado desviar o olhar, deixando de se encararem fixamente, um dos outros jogadores deve intervir e realizar um [SOLILÓQUIO]. Isso funciona de três maneiras distintas:
(1) O jogador amordaça o interrogado ou o interrogador com o pedaço de pano. Começa então um monólogo. Tudo o que disser durante o monólogo representa o que a personagem amordaçada está pensando naquele exato momento;
(2) O jogador venda o interrogado ou o interrogador com o pedaço de pano. Começa então um monólogo, relembrando alguma cena da infância do filho ou filha da pessoa vendada;
(3) O jogador amarra as mãos do interrogado ou do interrogador com o pedaço de pano. Se ajoelha, e começa um monólogo, representando as súplicas para que a tortura do filho ou filha da pessoa amarrada parasse.
Os [SOLILÓQUIOS] representam, em jogo, pensamentos, lembranças e projeções. Se aquilo aconteceu de fato ou não, pouco importa. O jogador que foi alvo do [SOLILÓQUIO] deverá incorporar aquela sensação como sendo de sua personagem.
É importante frisar que quem é amordaçado/vendado/amarrado é o JOGADOR, e não a PERSONAGEM. Por conta da violência simbólica do ato, deverá haver consentimento para que essa mecânica possa ocorrer. Ao ver o pedaço de pano dirigido contra si, o jogador deverá acenar positivamente com a cabeça caso concorde, e negativamente caso discorde. No caso de discordância, [PAREM O JOGO] e discutam a situação. Se houver concordância posterior, o jogo continua. Caso contrário, o jogo acaba.

O jogo termina quando todos os jogadores passarem pela posição de interrogado.

[POSLÚDICO]
Democraticamente, cheguem a um julgamento para cada um dos torturadores. É a junta militar de inquérito, chegando ao veredito de sua corte marcial por crimes de guerra. Se quiserem, justifiquem seus votos. Independentemente se for considerado inocente ou culpado, nada acontece. É a dura realidade batendo à porta. No máximo, você pode fazer uma camiseta onde se lê “(nome da sua personagem) vive!” e tentar a vida na política.

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